Os ‘pitboys’ do Facebook
Através de um trabalho sério e fundamentado que já dura quase duas décadas, o prof. Olavo de Carvalho oxigenou os espaços de formação intelectual no Brasil. Nesse contexto, é natural que apareçam, dentro e fora dos círculos de estudo e de discussão que daí surgiram, pessoas com os mais variados propósitos. Muitas delas atenderam ao pedido do professor e se refugiaram nos livros, no trabalho, na vida cotidiana, nas relações de amizade e de vizinhança. Estão se guardando para quando o carnaval chegar (se bem que alguns já se convenceram de que não existe carnaval que valha a pena).
Outros – parece-me, a maioria – assistem aos programas radiofônicos, leem os artigos do Diário do Comércio e talvez até se inscrevam no Seminário de Filosofia; recarregam periodicamente suas ‘baterias’ e com isso vivem a vida de sempre um pouco mais atentos e confiantes. Eles descobriram em si, através do exercício constante, indícios de virtudes antes insuspeitadas; e beneficiaram-se do contato com ideias novas e certamente mais saudáveis do que tudo o que, durante décadas, lhes foi oferecido pelo Ministério da Educação.
Um terceiro grupo de pessoas, porém, fixou-se em uma característica periférica e caricata do prof. Olavo de Carvalho que, isolada, é uma verdadeira lástima. Falo da técnica muitas vezes mal-compreendida e outras tantas por ele próprio usada com tanta frequência e com tão inexpressivos adversários que a sua utilidade acaba por escapar à minha ignorância: a técnica de iniciar um debate com a bota no peito do adversário.
Como eu disse, o professor domina esta técnica como ninguém e com espantosa frequência entrega a todos os bons frutos que ele deseja: consegue a um só tempo espalhar os cegos que seguiam o cego-mor e demonstrar a seus alunos, pelo exemplo, como se comportar em situações análogas.
O problema, como em quase tudo, são os sapos que não conhecem o Céu – ou que acham que já vivem nele. Não compreendendo que essa arte não deve ser usada sem caridade; não desconfiando que a caridade exige interesse verdadeiro pelo outro; e que, portanto, exige a análise meditativa das opiniões do adversário, esses idiotas saem vasculhando blogs e postagens do Facebook à procura de uma briguinha, verdadeiramente loucos por xingar e humilhar alguém. Entre esses há, de um lado, os simpatizantes que não entenderam o propósito pedagógico do professor; e, de outro, os que não suportam vê-lo nem pintado a ouro — comprovando, com isso, que o que odiamos acaba nos contaminando.
Eu já topei com duas figuras assim – pessoas que eu nunca tinha visto, respectivamente, mais feia e mais gordo. Em contextos diferentes, ‘pegaram’ uma frase no ar, uma opinião que despretensiosamente dei em uma conversa entre amigos, e através de seu software de sondar heresias políticas, artísticas e religiosas me classificaram dentro de uma das categorias que adoram odiar.
Uma opinião minha que lhes pareceu, talvez, quem sabe?, repugnante me transformou a seus olhos, no mesmo ato, em um Judas que devia ser queimado em praça pública. Eu, que nunca havia visto essas pessoas, fiquei me perguntando contra quem elas estavam brigando, raivosas (talvez contra um ser que foi habitante de mim há tantos anos?). Imaginava-as dando socos no teclado ou batendo o smartphone na parede enquanto digitavam, enfurecidas. E eu só havia dito uma ou duas frases. A vida mental dessas pessoas é geralmente uma coleção de cacoetes que elas se esforçam para coerir. São loucos, furiosos, pedantes e cheios de si.
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