Uma Nova História da Música (Carpeaux): O Outono da Idade Média

Esta postagem traz parte da seleção de obras musicais incluídas por Otto Maria Carpeaux no Apêndice B de seu livro Uma Nova História da Música (2ª Edição, revista e aumentada, Livraria José Olympio Editora). Acesse o arquivo inaugural aqui.

O OUTONO DA IDADE MÉDIA

John Dunstable (1370-1453)

Atribui-se a ele maior liberdade de invenção melódica que aos mestres da Ars Nova.
Em seu tempo passava por compositor de grande categoria e mestre dos mestres ‘flamengos’.

Quam pulchra es

Guillaume Dufay (1400-1474)

Sua música é ‘mais rica’ só em comparação com seus predecessores; mas dá impressão de estranho, às vezes de bizarro. O mestre já domina as regras todas; ainda não sabe aproveitá-las para comunicar-nos sua emoção religiosa; ou então, nós outros já não sabemos apreciar-lhe os modos de expressão.

Missa Se la face. Pode-se imaginar ser a música que os anjos cantam na parte superior do altar dos Van Eyck, na Catedral de St. Bavo em Gent.

Johannes Ockhem (1430-1495)

Mestre de todos os flamengos posteriores.
Depois de sua morte todos os músicos em posição de responsabilidade dedicaram elegias à sua memória.
Foi um mestre dos artifícios eruditos, de irregularidades inesperadas, de soluções novas. Sua música nos impressiona como sendo ainda mais arcaica que a dos Dunstable e Dufay, dir-se-ia mais gótica; afinal, foi ele que regia o coro naquele milagre de arquitetura gótica que é a Saint-Chapelle em Paris.

Missa cuiusvis ton (aqui, apenas o Kyrie)

Deo gratias. Moteto para nada menos que 36 vozes.
Jakob Obrecht (1430-1505)

Missa Fortuna desperata. Obra que realmente lembra os Van Eyck.

Salve crux, arbor vitae. Gigantesco moteto, que corresponderia à arquitetura em torno do altar dos Van Eyck; uma catedral sonora em gótico flamboyant.

Salve Regina

Josquin Des Prés (1450-1521)

O primeiro mestre “vivo” da história da música ocidental (A música dos Dufay, Ockehem, Obrecht só tem interesse histórico. Não poderá ser revivificada).

Representante do quatrocento.

No fim do século XV, sua posição parecia ser a de Beethoven em nosso tempo.

* Missa Pange lingua (1516). Provavelmente a obra-prima de Josquin, de beleza angélica.

Ave Maria. A seu propósito nos ocorre as virgens humildes e secretamente extáticas de Memling.

De profundis e Grande Miserere. Este último é sombrio e incomparavelmente poderoso; ambas as obras nos lembram os anjos pretos que, nos quadros de Roger van der Weyden, voam como grandes aves da morte em torno da cruz erigida em Gólgota.

Missa L ‘Home armé. Complicadíssima. In exitu Israel, Praeter rerum seriem (6 vozes), Hic in sidereo, Que habitat in adjutorio (24 vozes) — São obras que parecem dizer de um outro mundo, inefável.

Missa Une musique de Biscaye (aqui, apenas o Sanctus).

Stabat Mater. Sereno e definitivamente reincorporado ao repertório das grandes associações corais.

Thomas Tallis (1505-1585)

Compositor insular que ainda cultiva o estilo de Josquin quando já o tinha abandonado o continente europeu.

Spem in alium (outra versão, ao vivo)(cantado aqui por setecentas pessoas, em 2006, Manchester)

MiserereSpem in alium e Miserere (40 vozes) são imensas construções góticas, pedras de toque, até hoje, para a arte de cantar a capela dos coros ingleses.

As Lamentações de Jeremias. Já são palestrinianas; imponentes.

Missa para quatro vozes e If you love me, keep my commandments (não são mencionadas pelo Carpeaux)

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