Sentimentos oceânicos
Quando tinha nove ou dez anos, experimentava sentimentos oceânicos quando acordava às cinco e meia da manhã para jogar futebol com meus amigos nas quadras do Conjunto IAPI, em Belo Horizonte, MG. Àquela hora as quadras estavam vazias e os portões, fechados. Era preciso pular o alambrado para ter acesso ao seu interior. Tudo isso dava a esse evento um certo ar místico. No meio da manhã e à tarde as quadras estavam sempre cheias de turmas de colégio ou de grupos de adolescentes jogando futebol; à noite era o momento dos adultos. Diferentemente, às cinco e meia da manhã a quadra não era de ninguém. Enquanto todos dormiam profundamente, começávamos o dia declarando o domínio de nossos corpos em relação ao espaço já dividido (se bem que caoticamente dividido, na maior parte do tempo) pelos mais velhos. No conjunto habitacional cercado pela Avenida Antônio Carlos e pela Favela Prado Lopes, havia, ali dentro, por breves instantes, um tempo e um espaço em que cabia o nosso mundo inteiro.
Que mágico esses sentimentos! Faz a gente reviver os nossos mundos da infância, da minha rua Paracatu do JK em Montes Claros, do pé de caju no quintal, e tantas outras coisas… lembrar dos meninos da Rua Paulo… Muito bom Bruno! Obrigada!