A única intenção desse ‘resumo da narrativa’ é servir de roteiro para eventuais encontros de apresentação e discussão do livro, conforme as consagradas Expedições pelo Mundo da Cultura, do Prof. José Monir Nasser. Uma resenha deste livro pode ser vista em outra página.
Resumo da narrativa
Primeira Parte
I
Raskhólnikov (ou Rodka) é um jovem estudante que reside em São Petersburgo. Está sem dinheiro, teve de largar os estudos na Faculdade de Direito. E mora na pensão de uma velha, Praskóvia Pávlovna, que lhe cobra sem cessar os aluguéis atrasados.
Visita Aliéna Ivanóvna, uma agiota, já planejando assaltá-la. “Ensaio”.
Notas: ar meio indeciso, prefere evitar pessoas, ideias embaralhadas. Etimologia de seu nome (raskól): cisão, dissidência, cisma religioso. Era inteligente acima da média, bom acima da média e bonito acima da média. Mas suas ideias eram confusas. Ele estudou meticulosamente o crime que pretendia cometer. Selecionar no texto as passagens que indicam sua intenção de cometer o crime.
II
Conhece em um bar o conselheiro titular Marmieládov (Siemion Zakhárovitch), que lhe conta a história de sua família, em especial de sua mulher Ekatierina Ivânovna, com quem se casou para evitar que ela ficasse na desgraça que estava depois da morte do marido, que a deixou com três filhinhos. Sonietchka (Sônia ou Sofia) é filha do primeiro casamento de Marmieládov; ela se prostituía para ajudar em casa, enquanto o padrasto se perdia em bebedeiras. Ele foi despedido do emprego e desde então se entregou ao vício.
Notas: estado deprimente de Marmieládov, o modo como ele fala da carteira de identidade amarela de Sônia (foi com ela buscar), menção a passagem bíblica (“tudo o que estiver encoberto será revelado”). Como um homem empregado é tratado diferentemente pela família (p. 26-7 da tradução do Paulo Bezerra). Piedade de Sônia, que aceita prostituir-se para dar de comer aos pais e irmãos; e não quer visitá-los para preservar-lhes a imagem. Cenas lamentáveis das crianças jogadas. Marmieládov escorraçado pela mulher. Generosidade espontânea de Raskolnikhov, que deixa dinheiro na janela sem ser notado.
III
Raskhólnikov era servido por uma jovem, de nome Nastássia, criada e cozinheira da senhoria, Praskóvia Pávlovna. Perguntado por ela o que faz o dia inteiro e por que não trabalha, ele responde: passo o dia “pensando”.
Ele recebe uma carta da mãe, contando-lhe que a situação financeira melhorara. Sua irmã Dúnietchka foi empregada do Senhor Svidrigáilov, marido de Marfa Pietrovna. Ocorre um mal entendido, sua irmã é despedida, mas logo reabilitada. A mãe diz que agora poderá ajudar ao filho financeiramente, com algum dinheiro.
A mãe lhe informa que a irmã foi pedida em casamento por um advogado de mudança para São Petersburgo, Piotr Pietrovitch Lújin, com quem se esperava que Raskhólnikov trabalhasse. O casamento, um tanto imprevisto, entre duas pessoas que não se afinavam deveras, era a esperança da mãe e da irmã. Com ele esperavam arrumar a vida, principalmente com a ascensão de Raskhólnikov.
Notas: acorda amargo, com ódio. Por quê? Acha desagradável a presença das pessoas. O que faz o dia inteiro? “Penso”. Comparar traduções. Ele não tem um senso de justiça acurado (quando sabe que a senhoria lhe cobrará os alugueis atrasados, irrita-se). Carta da mãe: carinho ou tentativa de manipulação (diz que ele é a esperança delas, e ao mesmo tempo diz que Dúnia sacrificou-se por ele)? Curiosos prerrequisitos de Lujín: desposar uma moça honrada e sem dote, que já tivesse experimentado uma situação crítica (para que ela o considere um benfeitor).
IV
Ele fica possesso e não aceita o casamento. Diz que ele não ocorrerá, principalmente porque não fora consultado previamente sobre o assunto. Também não lhe agrada a rapidez da decisão e o fato de sua irmã se estar sacrificando em seu suposto benefício.
Encontrou uma prostituta bêbada e se compareceu dela. Mas logo se julga tolo. A atitude dele, aqui, é ambígua e a princípio inexplicável.
Raskhólnikov pensa em procurar seu colega de faculdade Razumíkhin (Vrazumíkhin), um dos únicos com quem se dava bem, pois em geral se julgava superior a todos. Mas desiste, por ora.
Notas: Fica com raiva do noivado da irmã. É muito orgulhoso. Não aceita o sacrifício da irmã (já que a mãe reconhece que não há amor entre eles). Isso certamente o pressiona ainda mais a tomar uma atitude, pois vê que não tem o que fazer, agora, para ajudá-las (mas só para daqui a dez anos, no longo prazo). “Uma pergunta que exige irremediavelmente uma solução” (é o momento de fazer alguma coisa, já). Lembra-se de sua fantasia de assaltar a agiota e a vista escurece. Tenta ajudar a prostituta, mas depois muda repentinamente de opinião (“alguma coisa pareceu picá-lo”).
V
Desiste, por ora, de procurar Razumíkhin. Deita-se em um jardim. Tem um sonho, em que ele criança e o pai estão em uma taberna e assistem a um rapaz (Mikolka) matar um cavalo a pauladas, junto com outros bêbados. É isso lhe faz lembrar de seu plano macabro. Em uma feira encontra-se com Lisavieta Ivânovna, irmã da proprietária da pensão. Irmã mais nova, de trinta e cinco anos, solteira, e que era de certa forma explorada por ela. Em uma conversa dela com um comerciante fica sabendo que a velha estará sozinha no dia seguinte, por volta das sete horas da noite.
Notas: Seus pensamentos mostram que ele planejava o crime, mas que ao mesmo tempo achava estranho que pensasse em levá-lo adiante (“será possível que vá mesmo acontecer?”) Seu sentimento no sonho contrasta com seus planos de matar a agiota. Pede a Deus que o liberte.
VI
Depois de saber que a agiota estará só no dia seguinte, Raskólnikov se lembra de como a ideia do crime lhe surgiu (há, aqui, um flash back).
A cena rememorada é a seguinte: Raskhólnikov assiste a dois jovens (um estudante e um oficial) conversando na taberna sobre a velha, e sobre a ideia, ainda que pueril para eles, de matá-la para o benefício de muitos. Trata-se de um discurso justificador que tem grande impacto sobre ele.
Ele se prepara para ir à casa da agiota. Consegue o machado, tomando-o sorrateiramente do zelador de seu prédio. Está meio fora de si. Reflete sobre sua falta de auto-controle.
Notas: Raskólnikov se impressiona que tenha ouvido o estudante dizer as mesmas ideias que ele havia tido há pouco. Sinais de que estava reticente ou fora de controle (f. 76-7 – Paulo Bezerra). Reflexões sobre o crime: por que os criminosos deixam pistas? Por que a vontade e a razão se afastam no momento do crime. Mas, ele manterá a vontade e a razão intactas, porque ora, o que ele cometerá não será um crime. Ao final do capítulo, o autor sugere possessão? Parece que sim, porque ele não se lembra da sua astúcia.
VII
Raskhólnikov toma coragem de vai à casa de Alíona Ivânovna, a velha usurária, com um machado e arrecadara sorrateiramente na casa de um vizinho. Mata-a com três machadadas, furta-lhe joias e objetos empenhados; Lisavieta entra na casa e ele também a mata, com uma machadada. Um visitante se aproxima, ele entra de novo no apartamento, fecha a porta e não o atende, naturalmente. Trata-se de Kotch e de Piestriakov.
Ele consegue escapar sem ser visto, mas está um pouco atordoado.
Notas: Dois sinais de que não estava no seu controle (f. 85). Deixa uma pista (a porta estava fechada no trinco, quando ele estava dentro; e os dois perceberam). No final, ideias malucas.
Segunda Parte
I
Raskhólnikov acorda preocupado, tentando averiguar se há manchas de sangue na sua roupa. Nastássia lhe entrega uma intimação para comparecer ao comissariado. Não se trata, ainda, do assassinato, mas de uma promissória sua, entregue para cobrança pela velha. Sente alívio. Escuta os comissários Iliá Pietróvitch e Nikodim Fomitch conversando sobre os suspeitos de matar a velha e sua irmã. Raskhólnikov cogita confessar seu crime, livrar-se da culpa, mas não tem coragem. Ao sair de lá suspeita que farão uma busca em seu quarto.
II
Raskólnikov se desfaz das pistas do crime e vai a casa de seu amigo Razumíkhin. Ele está meio atordoado e não se sente bem. Em casa, delira durante três dias inteiros, sente-se culpado, chega a esquecer os fatos recém-vividos.
III
Raskólnikov recebe a visita de um emissário estrangeiro (artiel); e a visita e os cuidados de Razumíkhin, que acaba chamando um médico seu amigo, Zósimov, para tratar do amigo.
IV
Todos conversam sobre o duplo homicídio. Prenderam o pintor Nikolai, que foi na taberna de Dúchkin empenhar uns brincos que, disse, achara na rua. Ele estava no prédio no dia dos assassinatos e brincava de briguinha com seu colega de trabalho Mitka.
Razúmikhin quer se empenhar pela libertação do pintor injustiçado, pois acredita na sua inocência. Zósimov contrapõe argumentos em prejuízo do pintor.
V
O sr. Lújin se apresenta a Raskólnikov, que lhe manifesta extrema má-vontade. Todos os quatro discutem teorias mais ou menos “clichês”. Raskólnikov, por fim, insulta o sr. Lujín, noivo de sua irmã, que acaba deixando o quarto um tanto desolado e nervoso com o tratamento que lhe foi dispensado.
VI
Raskólnikov conversa em uma taberna com Zamiótov, funcionário do comissariado e amigo de Razúmikhin. É irônico sobre a possibilidade de que ele próprio seja o assassino da velha (“E se eu as tiver matado?”).
Apela com Razúmikhin (“Não quero sua ajuda! Não me encha o saco!”). Volta ao apartamento da velha agiota, que por acaso estava aberto, em reforma. Tem uma conversa estranha com os pedreiros, que o julgam meio sem juízo. Para disfarçar sua curiosidade, diz que está ali porque pretende alugar o imóvel.
VII
Raskólnikov encontra Marmieládov atropelado e bêbado e o leva para casa, para que a sua mulher, Ekatierina Ivânovna, cuide dele. Mas após a chegada do médico e do sacerdote, ele morre.
Raskólnikov se envolve emocionalmente com a situação de penúria da viúva e das filhas de seu amigo, Sonha (que então se prostituía) e a pequena Pólienhka. E da à viúva todo o dinheiro que tem, que acabara de receber de sua mãe.
Ao chegar em seu quarto, Raskólnikov vê sua mãe e sua irmã, que lhe esperavam há algum tempo. Ele desmaia e é levantado por seu amigo Razumíkhin. Sua irmã se chama Avdótia Românovna (ou Dúnia) e sua mãe, Pulkhiéria Alieksándrovna.
Terceira Parte
I
Raskólnikov, impaciente, quer enxotar a mãe a e irmã de seu quarto. Diz que não aceitará o sacrifício da irmã.
Razumíkhin gosta da irmã de Raskólnikov, Dúnietchka, que é uma graça. O médico Zósimov também gostou da moça. Razúmikhin, sem deixar transparecer, insinua-se para a moça. Surgem ciúmes entre os dois amigos.
Zósimov cogita que a doença que acometeu Raskólnikov tem causas éticas.
II
Razúmikhin conta a Raskólnikov que Zamiétov está desconfiando dele, tendo-o, então, como suspeito do crime.
Lújin, o noivo de Dúnia, aborreceu-se com Raskólnikov e, na chegada delas a São Petersburgo, não as busca na rodoviária. Pede a elas que no seu próximo encontro o irmão não esteja presente. Do contrário ele próprio terá de se retirar imediatamente.
Razúmikhin cai nas graças da mãe e da irmã de Raskólnikov.
III
Principalmente a mãe está ansiosa com o comportamento de Raskhólnikov. Têm medo dele, de sua imprevisibilidade. Raskhólnikov sente em si também certa impaciência, certo ódio de sua irmã — sentimentos que ele chega a estranhar.
É noticiada a morte de Marfa Pietróvna, mulher de Svidrigáilov.
Raskhólnikov dá uma opção à sua irmã: ou escolhe seu noivo ou ele próprio, seu irmão. Ela pondera com ele que seus pensamentos não fazem sentido, que ela não está sendo oferecida como vítima, que se casa é porque não quer ficar solteira. Que beneficiar algum parente é um bem lateral, mas não é o seu móvel.
Desobedecendo a orientação do noivo, Dúnia pede ao irmão que esteja presente no encontro das 20h. O pretexto é que tudo seja esclarecido.
IV
Sônia visita Raskhólnikov, a fim de convidá-lo para o enterro de seu pai amanhã. Está muito agradecida pela ajuda financeira. Conhece a mãe e a irmã dele.
Razumíkhin leva Raskhólnikov à casa de Porfíri, que está investigando os nomes dos clientes da velha assassinada. O amigo acha que Rodka pode ser útil à investigação. E o investigador quer conhecer Raskhólnikov — que por sua vez está com receio de ser descoberto.
Um homem segue Sônia até sua casa. Busca contato. Raskolnikov entende que Razumikhin está eufórico com Dúnia.
V
Ao chegar na casa de Porfiri, encontraram também Zamietóv. Raskolnikov fala das suas joias que estavam com a velha e pede restituição. O funcionário diz que ele era o único cliente que ainda não o fizera.
Raskolnikov cogita que está sendo investigado.
Raskhólnikov publicou um artigo sobre Direito Penal, dizendo que há homens que estão acima da lei.
E, ainda:
Desenvolve-se uma conversa muito interessante sobre o conteúdo do artigo de Raskolnikov. Porfiri fica apertando Raskolnikov.
VI
Raskhólnikov se encontra com um homem que pedia informações sobre ele no seu prédio. Ele lhe chama de assassino. Raskhólnikov começa a delirar dizendo-se vítima da velha; dizendo-se Napoleão etc.
O ex-patrão de sua irmã, Svidrigáilov, o procura em seu quarto.
Quarta parte
I
Svidrigailov pede a Raskolnikov para lhe servir de intermediário entre si e sua irmã. Ele quer evitar seu casamento com Lújin. E está disposto a pagar dez mul rublos por isso.
II
No encontro marcado, Lújin discute com Dúnia e a mãe sobre Raskolnikov, sobre Svidrigailov; e acaba expulso pela própria Dúnia, por sua insolência. Mas ele ainda alimenta esperanças de uma reconciliação, embora para tanto tenha de eliminar Raskhólnikov do cenário.
III
Enquanto Razumíkhin combinava de abrir uma sociedade com a família de Raskhólnikov (com parte do dinheiro que Marfa deixou para Dúnia), Raskhólnikov muda repentinamente o ânimo e diz que vai embora. Que não é para ninguém procurá-lo, e que talvez volte um dia. Deixa a todos estupefatos com seu comportamento estranho.
Isso estreitará os laços de Razumikhin com a mãe e a irmã de Raskolnikov.
IV
Ele vai falar com Sônia, também em tom de preocupação e despedida. Sente-a miserável por ter de se prostituir e se pergunta por que ela ainda não se matou. A resposta: ela se sente responsável pela madrasta Ekatierina Ivânovna e pelas filhas dela. Raskhólnikov sente compaixão por ela e por sua grandeza de alma.
Raskhólnikov, um tanto cínico, filosofa sobre a desgraça de Sônia:
Leem juntos a passagem da Ressurreição de Lázaro. Emocionam-se.
Raskhólnikov propõe a Sônia que se juntem. E se ela aceitar, ele lhe contará quem matou Lisavieta — que era sua amiga e revendedora de roupas para sua mãe. Por trás da porta a tudo ouvia Svidrigáilov.
V
Raskhólnikov vai procurar Porfíri no comissariado, a fim de entregar o requerimento de restituição de seus bens. Aproveita e comenta com ele sobre seu possível interrogatório. O clima é tenso, de gato e rato. Porfíri insinua que já sabe quem é o assassino mas que não compensa prendê-lo agora, pois com o desespero de sentir-se investigado o suspeito acabará dando pistas fortes de seu crime:
O diálogo entre investigador é investigado prossegue. Porfíri insinua que pegará o culpado, que acabará se entregando por não suportar a culpa. Raskhólnikov veste a carapuça e se irrita. Prenda-me logo se tem alguma evidência contra mim, mas não admito que riam de mim na minha cara e me atormentem!
VI
Porfíri manda trazer um preso, Nikolai, que aparentemente cansado de ser torturado, acaba se ajoelhando e confessando o crime diante de todos. Raskhólnikov se assusta, despede-se um pouco aliviado (se assim podemos nos expressar), mas ainda deverá depor.
O homem que no dia anterior o chamou de assassino o procura para pedir desculpas. Ele procurou Porfiri e assistiu estupefato a confissão de Nikolai.
Quinta Parte
I
Ficamos sabendo que Piotr Pietróvitch, quando chegou em São Petersburgo, buscou abrigo na casa de Andriéi Siemiônovitch, um comuno-nilista do grupo que era conhecido por caluniar pessoas injustamente. Pietrovitch buscava, sobretudo, estar protegido desses ataques, embora já de início entendesse que eles não valiam nada:
Pietrovitch lamenta que realmente tenha que romper o noivado com Dúnia, até porque já comprou muitos móveis e celebrou contrato de aluguel. Quer falar com Sônia e efetivamente consegue.
Oferece a ela dinheiro, possivelmente com alguma intenção de afetar sua relação com Raskolnikóv.
II
No jantar fúnebre, Ekatierina se frustra porque muitos convidados não foram. Na verdade, só os desgraçados da vizinhança foram. Ela gastou mais do que podia, na verdade usando parte do dinheiro que Raskólnikov lhe deu. Ela e Amalia Ivânovna entram em severas discussões, pois apesar dessa ultima tê-la ajudado em quase tudo no jantar, foi desprezada pela anfitriã.
III
Lújin chega no jantar fúnebre e quer falar um assunto sério com Sônia. É que uma nota de cem rublos desapareceu da casa de seu locador Andrei Siemiôvitch Liebiesiátnikov, justamente quando Sônia lá esteve. O tom acusatório é extremo. Ela diz que não sabe de nada e que só ficou com os de rublos que ele voluntariamente lhe deu. Mas Ekatierina sugere que ele a reviste. Sugerem que Amália faça as vezes. Porém, é Ekatierina quem acaba encontrando em um dos bolsos da garota a nota de cem rublos, dobrada em oito.
Ocorre que Siemiôvitch diz que viu Lújin colocando a nota de cem rublos no bolso de Sônia. Acusa-o de ter feito isso premeditadamente. Raskhólnikov ajuda a ‘confirmar’ a versão. Sônia lhe fica grata pela defesa. Lújin sai desmoralizado. O jantar acaba em bagunça. Ekatierina é expulsa de sua casa pela locadora e sai à rua em busca de justiça.
IV
Raskhólnikov vai a Sônia com a pretensão de lhe contar seu crime. Ele lhe conta e ela se compadece dele. ‘Agora você é uma criatura mais desgraçada que eu. Não vou abandoná-lo.’ Ela tenta justificar o crime dele, mas ele próprio não aceita:
Raskhólnikov confessa a Sônia que é mau, covarde e vil. E diz que matou a velha porque queria ser Napoleão. E explica:
E ele continua explicando suas intenções:
Ele diz que chegou a fazer tudo aquilo por meio de ‘raciocínios’.
Diz que quem matou a velha foi o Diabo. Que ele, Raskhólnikov, matou foi a si mesmo.
Sônia fala que ele deve se confessar e entregar. ‘Aceitar o sofrimento e redimir-se por meio dele’. Mas ele responde com cinismo:
Ao ver o bom sentimento que Sônia têm por si, Raskholnikóv sente-se mal. E já não quer que ela ‘o acompanhe no presídio’, caso ele seja preso, como há pouco ela falara. Sente-se indigno desse amor?
V
Liebiesiátnikov faz uma visita a Sônia.
Ekatierina continua nas ruas, como uma louca, queixando-se do mundo; e oferecendo o espetáculo da crianças fantasiadas cantando. Vai em busca de apoio de alguma autoridade, mas não recebe. Vira atração para os curiosos. Até que cai sangrando e, por conta de sua tísica, morre.
Svidrigáilov visita Raskhólnikov e se disponibiza a ajudar aos filhos da falecida Ekatierina. Quando Raskhólnikov lhe pergunta por que oferece ajuda, ele insinua que ouviu sua conversa com Sônia no dia anterior, conversa em que ele confessou o seu crime. Afinal, Raskhólnikov não sabia, mas Svidrigáilov era vizinho de parede-meia com Sônia.
Sexta Parte
I
Razumíkhin visita Raskólnikov e fala da confissão de Mikolka. Raskólnikov se interessa pelo assunto; e não entende onde Porfiri quer chegar. Ao sair de sua presença, Razumíkhin tenta entender como foi capaz de duvidar da inocência do amigo.
Raskólnikov quer resolver a questão com Svidrigáilov.
II
Raskólnikov recebe visita do juiz de instruções Porfíri, que finalmente lhe relata a fragilidade da confissão de Mikolka e lhe conta o caminho que ocorreu até chegar ao verdadeiro assassino. Mas o relato, na verdade, é sobre o próprio Raskólnikov.
Porfíri pede que Raskólnikov confesse logo. Ele desconversa e diz que não precisa da ajuda do juiz de instruções.
III
Raskólnikov vai atrás de Svidrigáilov, para sondar se ele conversou com Porfíri. Raskhólnikov quer resolver essa pendência com Svidrigáilov. Afinal, o que ele quer fazer com o segredo que extraiu da audição, atrás das paredes, da conversa que Ródia teve com Sônia? Quer ter prioridade sobre Dúnia?
Raskólnikov diz que se Svidrigáilov usar o segredo que sabe para conseguir seduzir Dúnia, que ele o matará antes que tudo seja consumado.
IV
Svidrigáilov relata seus sucessos com as criadas, para cujo usufruto tinha a permissão vigiada de Marfa. Fala sobre a lisonja e se reconhece um mestre nessa arte.
Svidrigáilov diz que está noivo de uma mocinha de dezesseis anos, cujos pais lhe aceitaram.
V
Svidrigáilov se encontra com Dúnia; e lhe conta sobre a confissão de Raskólnikov, que ele ouviu atrás da parede, uma conversa entre ele e Sônia. Conta-lhe detalhes da narrativa do irmão e os motivos alegados do crime: há dois tipos de pessoas, as materialistas e as do espírito. Aos últimos as leis não se aplicam, ou seja, eles podem violar as leis.
Svidrigáilov propõe a Dúnia dar fuga a Raskólnikov desde que ela o aceite; desde que ela ‘o deixe beijar a ponta de seu vestido’.
Dúnia quer sair do quarto e percebe que caiu em uma armadilha. Svidrigáilov ameaça violentá-la e é irônico ao dizer que se ela o denunciasse ninguém acreditaria. E se isso acontecesse ele revelaria o segredo de seu irmão. Dúnia saca o revólver que trazia consigo, o revólver de Marfa. Acusa Svidrigáilov de ter envenenado a própria mulher. Atira duas vezes, mas não o acerta. Ele pergunta se ela não o quer. Ela diz que não o quer e que nunca quererá. Pede-lhe que lhe deixe ir embora. Ele, frustrado, entrega-lhe as chaves.
VI
Svidrigáilov procura Sônia sua vizinha e, dizendo que está de mudança para a América, acerta com ela os últimos detalhes da ajuda aos seus irmãos órfãos e lhe dá uma boa quantia de dinheiro — que ela, gentilmente, quer recusar. Ele diz a ela que sabe da confissão de Raskólnikov e lhe pede segredo sobre este encontro e sobre o dinheiro.
Procura sua noiva, diz-lhe que terá de fazer uma viagem imprevista e lhe compensa com quinze mil rublos. A mãe dela guarda o dinheiro.
Svidrigáilov se hospeda em uma pensão miserável, para passar a noite. No quarto vizinho, dois homens discutem. Em sua cama, um rato. Tem um sonho estranho com uma garotinha de cinco anos. Já na rua, ao passar perto de um judeu, troca algumas palavras com ele, tira o revólver do bolso e dá um tiro em sua própria cabeça.
VII
Raskólnikov visita sua mãe, como que se despedindo dela. Ela lhe elogia o artigo publicado no jornal e diz que ele será um grande escritor. Ele se despede, ela chora, angustiada. Ele vai para sua casa e lá encontra sua irmã Dúnia, que já sabia de seu segredo. Ela diz que passou o dia com Sônia. Como ele faz menção de se entregar, ela diz que entregar-se ao castigo já é lavar metade da culpa.
Sim, Raskólnikov diz que vai se entregar, mas ele se nega a reconhecer a gravidade de seu crime. Diz que matou um piolho asqueroso e daninho e que por tal conduta mereceria ter perdoados os pecados.
VIII
Raskólnikov vai conversar com Sônia e diz que vai se entregar à prisão. Pede-lhe a cruzinha de Lisavieta e ela lha entrega. Ele sai sem se despedir, meio atordoado. Na rua, lembra-lhe do que Sônia lhe sugeriu e o implementa: ajoelha-se e beija a terra.
Ajoelha-se pela segunda vez e vê Sônia à certa distância. Compreende e ela acompanhava o seu calvário. Ele finalmente entra no comissariado para se entregar. Pretende falar com Zamiótov, mas é Pórokhov, o Pólvora, que lhe aparece, depois de por um instante suspeitar que em razão do horário não encontraria ninguém na repartição. Ele é muito solicito com Ródia e começa a falar com ele de literatura. Diz-lhe que há poucos dias um homem suicidou-se em Perersburgo. Tratava-se de Svidrigáilov. Raskólnikov toma um susto com a notícia. Pórokhov é um tagarela e não para de falar.
Até que o homem o despede, já que Zamiótov, a quem ele procurava, não estava lá, pois fora transferido recentemente. Raskólnikov desce as escadas, encontra com Sônia e decide subir novamente para falar com Pórokhov.
Ele confessa o seu crime e é preso.
Epílogo
I
Raskólnikov é processado, julgado e condenado. Sua sentença é mais branda do que o esperado: oito anos de trabalhos forçados na Sibéria. Contaram a seu favor alguns incidentes em que ele voluntariamente ajudara pessoas em situação de penúria ou de perigo. Também ajudou a abrandar o ânimo dos juízes às circunstâncias do crime, o fato de ele não se ter aproveitado dos objetos furtados e a suspeita de que não agiu em seu perfeito juízo.
Dúnia se casou com Razumíkhin. Sonha acompanhou Raskólnikov na ida para a Sibéria. Razumíkhin planeja, depois que terminar os estudos e se tiver estabelecido, em mudar-se com Dúnia para próximo de Raskhólnikov.
Sônia e Dúnia se correspondem. As notícias são mornas. A mãe de Raskólnikov começava a delirar. Parecia saber do processo e do destino do filho, embora ninguém lhe tenha falado às claras. Exalta os feitos pretéritos do filho, lê muitas vezes seu artigo. Até que cai enferma e morre.
II
Raskólnikov também fica doente e vai para o hospital do presídio. Refletindo sobre seu crime, não se arrepende de tê-lo praticado, mas sim de ter ido denunciar-se. Essa era a prova de que não era digno de ter cometido o crime.
Sônia visitava o presídio com assiduidade e acabou caindo nas graças dos demais presos, que de resto não se davam bem com Raskólnikov. Eles zombavam dele e de seu crime. Ela, porém, era atenciosa com eles e lhes prestava favores junto a seus familiares.
Sônia percebe que Raskólnikov a ama.
Raskólnikov guarda em sua cela os Evangelhos que pedira a Sônia. O tempo da pena será o tempo de maturação de uma nova vida para Raskólnikov, sete anos nos quais ele se transformará.
Fim
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