Precisamos falar sobre educação
Para melhorar os péssimos resultados do ensino brasileiro temos sempre à mão uma solução aparentemente infalível: precisamos investir mais na educação e na valorização dos professores. Aumentar o salário dos professores é uma boa coisa, pois eles realmente ganham muito pouco. Mas a solução usualmente apresentada – investir mais dinheiro no ensino institucionalizado – certamente não melhorará a educação brasileira.
A nossa educação anda mal. Há muitos anos nossos estudantes tiram sistematicamente algumas das piores notas nas avaliações internacionais de aprendizado. Subtraímos nossos jovens do lar por cinco horas diárias durante nove anos e o resultado de tanto esforço é, geralmente, uma capacidade mínima de compreender capas de revistas, os preços nas vitrines e a importância de obedecer às recomendações das autoridades sanitárias.
No ensino superior a coisa é apenas um pouco melhor. A contribuição das universidades brasileiras para a ciência é mínima; e não é apenas por falta de investimento público. Há poucos meses o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite disse que a nossa produção científica é “lixo acadêmico”.
Colocar mais dinheiro na educação não resolverá o problema porque a intenção geral das escolas não é propriamente educar as pessoas no sentido clássico do termo. Perder as esperanças nesse sistema que está aí talvez seja o único modo de começar a modificá-lo. Mas saibamos: porque a concepção mesma de educação universal é falha em suas próprias bases seria bom que nossa expectativa em relação a ela fosse mais realista.
A tese de fundo, aqui, é do padre e educador Ivan Illich: a nossa escola não pretende educar as pessoas, mas distribuí-las nas diversas posições necessárias ao bom funcionamento da sociedade. Se necessitamos de advogados, de médicos, de engenheiros e de biólogos, é preciso que muito cedo se apresentem, aos pequenos, amostras suficientes da matéria com a qual esperamos que eles trabalhem mais tarde. Assim se garante um número suficiente de profissionais em cada uma das atividades-chave. É disso que se trata. Nesse sentido, todo o ensino se tornou ensino profissionalizante. E a educação, onde fica? Leiam Ivan Illich e saberão. Voltarei a esse tema em outra oportunidade.
Para piorar um pouco as coisas, os nossos professores vêm sendo escalados – muitas vezes contra suas convicções – para doutrinar os alunos em assuntos que determinados grupos de pressão buscam impor. Os alunos são então introduzidos em um universo de regras sociais que, a título de fomentar uma pretensa cidadania, geram medo, contradizem seus sentimentos mais genuínos e invertem o senso das proporções. Nesse ambiente tenso e controverso a educação não encontra lugar. Vejam, a esse respeito, o livro “Maquiavel Pedagogo”, de Pascal Bernardin.
Para coroar de uma falsa glória um mecanismo que não tem funcionado bem, alguns se alegram com a existência do chamado “direito à educação”. A expressão indica, no máximo, o direito à existência de um sistema educacional custeado pelos impostos. Mas muitos a interpretam como o “direito de ser educado” – o que a rigor é uma fantasia. Pois vejam: quem é o sujeito ativo do aprendizado? O aluno. O jovem aluno tem, isso sim, o dever de se educar e o direito de buscar quem o ensine. Porque só se educam pessoas que estão maximamente interessadas em aprender e dispostas a buscar o conhecimento onde quer que ele esteja. O desejo de aprender, segundo Ivan Illich, é sufocado pela obrigatoriedade do ensino e pela burocracia. A educação, como o amor, só cresce onde há liberdade.
(Publicado no Diário do Rio Doce, em 17.06.2015)
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