Mário de Andrade desce aos infernos – excerto (Carlos Drummond de Andrade)

(…)

II

No chão me deito à maneira dos desesperados.friends death

Estou escuro, estou rigorosamente noturno, estou vazio, esqueço que sou um poeta, que não estou sozinho, preciso aceitar e compor, minhas medidas partiram-se, mas preciso, preciso, preciso.

Rastejando, entre cacos, me aproximo. Não quero, mas preciso tocar pele de homem, avaliar o frio, ver a cor, ver o silêncio, conhecer um novo amigo e nele me derramar.

Porque é outro amigo. A explosiva descoberta ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.

Furo as paredes e vejo. Através do mar sangüíneo vejo. Minucioso, implacável, sereno, pulverizado, é outro amigo. São outros dentes. Outro sorriso. Outra palavra, que goteja.

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