Joaquim Nabuco fala sobre Camões
“O homem é o nome. A parte individual da nossa existência, se é a que mais nos interessa e comove, não é por certo a melhor. Além desta, há outra que pertence à pátria, à ciência, à arte; e que, se quase sempre é uma dedicação obscura, também pode ser uma criação imortal. A glória não é senão o domínio que o espírito humano adquire dessa parte que se lhe incorpora, e os Centenários são as grandes renovações periódicas dessa posse perpétua”.
“Não, em toda a parte a ciência prepara a unidade, enquanto a arte opera a união”.
“É assim a obra de arte; ela força o artista a não a deixar incompleta, e o faz sentir como César, o qual fez da ambição uma arte, que nada está feito enquanto resta alguma coisa por fazer. Se não fosse assim, quantas obras-primas não ficariam, como o S. Mateus de Miguel Ângelo, metade na pedra, metade no gênio do escultor? Mil vezes antes para uma obra de arte ficar eternamente mutilada, como as estátuas gregas, do que eternamente incompleta”.
“Os Lusíadas não resumem o homem, nem a vida; não são o espelho do Infinito subjetivo, nem o da Natureza; eles são como obra de arte o poema da pátria, a memória de um povo. Foram, há três séculos, dia por dia, o testamento de uma grande raça, e são hoje a sua bandeira”.
“’A poesia, disse Carlyle, é a tentativa que o homem faz para tornar a sua existência harmônica.’ ‘Quem quiser escrever poemas heróicos, disse Milton, deve fazer um poema heróico de sua vida inteira.’ Com efeito, senhores, que poesia é mais elevada do que, por exemplo, a vida da mulher verdadeiramente bela, quando essa vida é tornada harmônica pelo respeito, pelo culto, pela adoração de si mesma, como a produção de uma Arte superior, que é a Natureza? Que poema heróico é maior do que esse em que o operário converte o trabalho, o marinheiro o navio, a mãe o filho, o rei o reinado, a mulher o coração, o homem o dever, e o povo a história?”
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00136a.pdf — compilação feita por David Bezerra no Facebook.
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