Dor oculta (Guilherme de Almeida)

Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranqüila,
serenamente entranham-se na terra.

E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, tremula cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila.

Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angustia que não molha o rosto
e que não tomba em gotas pelo chão,

havia de chorar se adivinhasse
que há lagrimas que ocorrem pela face
e outras que rolam pelo coração!

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