Ainda sobre a mania de pensar com a própria cabeça

As pessoas falam de tudo um pouco no meu canal no YouTube, mas o comentário mais recorrente é uma variação em torno de: “você cita muito o Olavo de Carvalho e isso pode fazer as pessoas pensarem que você não tem ideias próprias”.

O espaço de comentários do YouTube não permite grandes discussões, mas a vontade que dá é perguntar a essas pessoas quem são suas referências. Como provavelmente a maioria delas diria ou “eu não me prendo a referências; eu penso com minha própria cabeça” ou “eu formo minha própria opinião lendo notícias e artigos de jornais”,
eu teria logo uma evidência de que a objeção inicialmente levantada contra mim não tem a menor consistência.

Ora, entre os grandes filósofos não existe nem nunca existiu essa modinha, tão disseminada entre os néscios, de “pensar com a própria cabeça”. Não. Aristóteles, quando filosofava, tinha plena consciência de fazê-lo também com as cabeças de Anaximandro, de Anaxágoras, de Zenão de Eléia, de Parmênides, de Heráclito, de Sócrates e de Platão. Por aqui, qualquer menino de treze anos levanta o nariz e emite suas opiniões orgulhoso de “pensar com a própria cabeça”: não sabe que essa ideia absurda lhe foi incutida por outras tantas cabeças. Mas como ele não tem a mínima ideia de como (e nem de que deve) rastrear a origem de suas ideias, está feliz em possuí-las. Porém, nem essa ideia verdadeiramente lhe pertence, nem lhe pertence a maioria de suas opiniões. É um iludido que se sente no direito (se é que não se imagina mesmo no dever) de passar um sabão nas pessoas que não carregam o mesmo ar de independência que ele simula carregar.

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